Viajar para Alter do Chão fora de temporada é ir de encontro com o silêncio. Desfrute o canto dos macacos-búgio ao entardecer, ouça o barulho das águas do Tapajós ao encostar nas praias de areia branca e conheça a magia da floresta Amazônica inundada pela maior bacia de água mineral do planeta. Aos que buscam um refúgio de sossego e conexão com a natureza, viajar à cidade paraense entre os meses de cheia pode ser uma excelente pedida.  

 

De acordo com a Secretaria de Estado de Turismo do Pará (SETUR-PA), em média, Alter do Chão recebe cerca de 150 mil turistas na temporada de seca por ano. Localizada na região amazônica, o distrito é conhecido por suas praias fluviais de areia branca e águas cristalinas – o que atrai visitantes do Brasil e mundo inteiro para desfrutar do verão amazônico. Mas, se você quer experimentar um lado mais sensorial, enraizado e mágico de Alter do Chão, recomendo visitá-la fora de temporada, na época de cheia – entre os meses de março a junho.

É nesse período que o nível do rio Tapajós, que corta o distrito, sobe significativamente, inundando grande parte das praias e criando uma atmosfera única. O cenário muda completamente: a fauna e flora da região se tornam mais vibrantes e visíveis. Muitas das árvores da floresta tropical perdem suas folhas durante a estação seca, mas quando as águas sobem, as folhas voltam a brotar, criando uma paisagem exuberante e colorida. A vida selvagem também fica mais visível, já que muitos animais como pássaros, jacarés, macacos e até mesmo preguiças saem de seus esconderijos para aproveitar as áreas inundadas. 

Os passeios de barco acabam se tornando ainda mais populares, e os visitantes podem explorar áreas que normalmente são inacessíveis durante a estação seca. É possível ir de encontro com comunidades ribeirinhas e aldeias indígenas que costumam ficar isoladas na seca, conhecer a culinária local e participar de atividades culturais como o Carimbó e piracaias.

Após ficar 10 dias na vila em março de 2023, eu já reconhecia todos os viajantes que estavam por lá (é possível contar nos dedos quem visita a região fora da temporada) e o acolhimento dos moradores, que encontramos repetidamente pelo centrinho e eventos culturais, fizeram eu e meu grupo de amigos nos sentir em casa. No fim da viagem, já estávamos dividindo o pandeiro com a banda de chorinho, ganhando presentes da moça da sorveteria, recebendo saias emprestadas de moradores para dançar no Carimbó, lembrando das histórias das lendas do Curupira contadas pelos moradores e dizendo até logo para novos amigos que criamos pelo caminho. Viajar assim, com o privilégio de conhecer um destino quando ele não está tomado pelo turismo massivo, é se conectar de forma genuína e responsável com a comunidade e meio ambiente, o que cada vez acredito e prezo mais.

Se você gostou da ideia de uma imersão cultural e ambiental no coração da Amazônia, recomendo aqui os melhores passeios de Alter do Chão para fazer durante a época de cheia:

 

 

 

O que fazer em Alter do Chão fora de temporada

 

Canal do Jari

Você sabia que vitórias-régias são comestíveis? Pois é, são deliciosas.  

Quem descobriu essa iguaria é a Dona Dulce, ribeirinha nascida no Canal do Jari.  Após um tempo, começou a observar que as tartarugas e botos comem as plantas e pensou: “por que não comer também?”. A ideia transformou a vida de Dulce: “descobri que a vitória régia tem a consistência de uma couve na folha e palmito no caule”, afirma. Com esses ingredientes chave, serve aos visitantes inúmeras receitas em um menu degustação que custa R$30,00:  quiches, massas de pizza, tempura, doces e, acredite, até pipoca de vitória-régia.

Você pode visitar a fazenda da dona Dulce em um passeio ao canal do Jari, um braço do Rio Amazonas que fica a apenas 1 hora de barco de Alter do Chão. No canal, é possível avistar pássaros, botos e até jacarés.

Além disso, há a opção de fazer uma trilha – ou um passeio de canoa na época de cheia – pelas florestas da região. A Trilha das Preguiças, como é conhecida, leva os visitantes por um caminho cercado por árvores e plantas exóticas. Durante a caminhada, é possível ver animais nativos da região, como preguiças e macacos, além de diversas aves e insetos. 

Recomendo fazer o passeio com a Curimbó turismo que ainda traz inúmeros instrumentos de sopro e embala ritmos da cultura paraense ao pôr do sol. 

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Fazenda de vitórias-regia da Dona Dulce, no Canal do Jari. Foto: Virginia Falanghe

 

Flona do Tapajós

O passeio começa com uma viagem de barco pelo Rio Tapajós, que oferece vistas panorâmicas da paisagem natural da região, incluindo a floresta densa e as águas cristalinas do rio. Durante a viagem, é possível avistar uma variedade de espécies de pássaros, animais e plantas nativas da região.

Ao chegar à FLONA do Tapajós, os visitantes têm a oportunidade de caminhar por trilhas na floresta, observando a rica biodiversidade e aprendendo sobre as comunidades locais e suas práticas de conservação ambiental. A área também abriga uma série de igarapés, onde os visitantes podem nadar e se refrescar nas águas cristalinas.

É possível escolher entre a trilha para ver a vovózinha ou a vovôzona, árvores sumaumas centenárias – uma com cerca de 400 anos e outra com 800 (uma das mais antigas do Brasil). A trilha para vovózinha tem 9km de extensão e passa por um igarapé cristalino lindíssimo e outras árvores incríveis da floresta primária. Já a trilha da vovozôna tem 14km de extensão, porém não há um igarapé cristalino no caminho. Recomendo fazer esse passeio com o guia Naldo. 

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A majestosa sumauma de 400 anos, na trilha da Vovózinha, FLONA do Tapajós. Foto: Virginia Falanghe

 

Floresta Encantada

Um local de beleza incomparável e misticismo. A floresta é um labirinto de árvores entrelaçadas com cipós, samambaias e bromélias. O ambiente é úmido e escuro, e os visitantes são guiados por um morador que explica a história e a cultura da região. A Floresta Encantada é um lugar sagrado para muitos povos indígenas e ribeirinhos, e há muitas lendas e histórias sobre suas origens e significados. Recomendo fazer esse passeio com o Índio Pitó. 

 

 

Rio Arapiuns

Um dos mais belos rios da Amazônia. As águas cristalinas e calmas do rio são ideais para nadar e fazer snorkel, onde é possível observar a vida marinha, incluindo peixes coloridos e tartarugas. A paisagem natural é incrível, com praias de areia branca e floresta densa ao fundo. Recomendo fazer esse passeio a bordo do barco Pajé para dormir sobre as águas do Arapiuns por alguns dias e conhecer a comunidade local. 

 

Carimbó 

O carimbó é uma dança vibrante e colorida que faz parte da cultura amazônica, especialmente no Pará.

De origem afro-indígena, se tornou parte integrante da cultura regional. A dança é geralmente acompanhada por instrumentos de percussão, como tambores, maracás e apitos. Os dançarinos usam trajes coloridos e realizam movimentos animados e sensuais, criando um ambiente festivo e alegre.

Em Alter do Chão, todas as quintas-feiras o carimbó toma conta da praça da cidade, e é acompanhado por comida típica, bebida e muita diversão para moradores e visitantes. 

 

Piracaia

Poucas coisas são tão mágicas quanto chegar na beira de uma praia a noite e apreciar o luar ou as estrelas. Ainda mais, quando esse momento acompanha um círculo lindo de velas para iluminar a areia, um majestoso banquete em cima de folhas de bananeira, um peixe na brasa, um tambor no embalo dos ritmos amazônicos e muitas histórias das lendas da floresta contadas diretamente pelos povos originários. Esses eventos são chamados de piracaia, uma tradição indígena, que significa ‘peixe’ na ‘beira da praia’. 

Fizemos uma piracaia privativa lindíssima para celebrar meu aniversário organizada pelo índio Kumaruara Naldo, pela esposa, Arlete – cacica de uma aldeia da etnia – e seus filhos. Recomendo a todos que puderem viver essa experiência única e memorável. 

 

Onde comer

Ah, os sabores amazônicos. Experimentar um peixinho com açaí, sentir a dormência – ou tremedeira – nos lábios provocadas pela flor do Jambu, degustar vitória-régia, sentir os sabores dos peixes de água doce amazônicos e provar um tupuci são experiências indispensáveis ao visitar Alter do Chão (faça chuva ou sol). Algumas recomendações de restaurantes:

  • Sorveteria Boto;
  • Comidinha caseira na Flona do Tapajós no Restaurante Casa da Dona Conce;
  • Pato no Tucupi no Restaurante Tribal;
  • Tambaqui no Espaço Caranazal;
  • Drinks no Ty Comedoria e Bar.

 

Onde se hospedar

O pequeno distrito possui uma ampla variedade de opções hoteleiras, que vão desde pousadas simples até boutique luxuosas. 

Na época de baixa temporada, os preços das hospedagens em Alter do Chão tendem a ser mais acessíveis em comparação com a alta temporada. Essa é uma excelente oportunidade para os viajantes que desejam explorar a região sem gastar muito. Minhas recomendações dos melhores lugares para se hospedar para cada perfil de viajante:

 

Como se preparar

A época de cheia em Alter do Chão, que ocorre geralmente entre os meses de março a junho, é caracterizada por um clima quente e úmido. As temperaturas médias variam entre 25 e 35 graus Celsius, com umidade relativa do ar em torno de 80%. Chove? Sim! Porém, são pancadas rápidas e isoladas – o que não impede nenhum passeio. 

No entanto, é importante estar preparado para as pancadas de chuva e para o calor intenso. Roupas leves e de secagem rápida são recomendadas, além de calçados adequados para caminhadas em terrenos úmidos e escorregadios. Protetor solar, repelente de insetos e chapéu também são essenciais para proteção contra os raios solares e picadas de mosquitos.

A época de cheia em Alter do Chão é uma ótima oportunidade para explorar a rica biodiversidade da região e se encantar com as paisagens naturais únicas que a cheia do Rio Tapajós oferece.

Virginia Falanghe

https://vivaomundo.com.br/

Jornalista, apaixonada por viagens, natureza, aventuras e em compartilhar dicas para ajudar mais pessoas a viajarem mais e melhor. Quando não está viajando, está lendo, escrevendo ou falando sobre destinos do Brasil e do mundo. Já pisou nos cinco continentes e fez algumas paradas longas para morar na Austrália, Estados Unidos, Canadá e Portugal. Atualmente, mora em São Paulo e escreve dicas de viagens no site da Jovem Pan, integra a equipe do programa Mulheres da Pan como especialista em turismo e também é editora-chefe dos sites Dicas de Viagem, Viva o Mundo e Pousadas Incríveis  Uma boa leitura e ótimas viagens.