No fim da temporada das acensões aos 8.848m do Monte Everest, muito se fala da glória de chegar até o topo do mundo, mas pouco se lembra que para alcançá-lo, é preciso descer muitas vezes. Pouco se recorda também, que o cume é apenas a metade do caminho de volta para a casa. A montanha traz lições que o conforto do cotidiano apaga de nossa memória, mas são fundamentais para viver uma vida mais consciente e com menos sofrimento. Se aventurar é preciso e te explico o porquê. 

 

Chegada ao acampamento base do Everest. Foto: Mana Gollo

 

Não, eu não cheguei ao cume do monte Everest. Porém, no último mês de abril, alcancei o meu próprio, um feito bem mais modesto: completar o trekking de 130km ao acampamento base da maior montanha do planeta. 

Para chegar aos 5.564m do Acampamento Base do Everest, é preciso enfrentar alguns desafios: embarcar em um dos voos mais perigosos do planeta, caminhar cerca de 7 horas por dia ao longo de 13 dias, enfrentar temperaturas que chegam a -15 °C e sentir os efeitos da aclimatação a altitude. 

Quem decide ir além tentar o cume, como foi o caso de oito brasileiros nesta temporada, precisa enfrentar dificuldades como as descritas multiplicadas por mil. Além da preparação física necessária ao longo de anos, também é preciso ter inúmeras certificações de montanhismo, desembolsar ao menos USD 50 mil dólares e morar por lá cerca de 45 dias. Para garantir o sucesso da expedição, é necessário fazer inúmeros ciclos de aclimatação, que envolvem subir a determinadas zonas de altitude e descer para os acampamentos mais baixos. Nem no Everest, nem na vida, a jornada ao sucesso é linear. 

Então, você deve estar se perguntando: mas por que alguém se coloca nesse tipo de situação? Minha resposta é uma: porque os maiores aprendizados, vem dos grandes desafios que a gente se propõe a enfrentar de cabeça erguida e respeitando as nossas vulnerabilidades. Sair da zona de conforto é necessário para alcançar novas perspectivas, ver a vida de um jeito diferente e, quem sabe, encontrar ainda mais a sua verdadeira essência. 

Além dos aprendizados, há o deslumbre com a magnitude da natureza e os ensinamentos com as novas culturas. Cruzar o coração do planeta entre o vale das montanhas nevadas que mais alto tocam o céu te leva a uma terra distante cheia de aprendizados. Há muita sabedoria entre os vilarejos de pedra pitorescos e bem preservados, as pontes suspensas no rio de leite, o contato com a cultura Sherpa, a filosofia budista, as geleiras, rochedos e pedras do Khumbu que levam a base da montanha mais alta da Terra.

Compartilho as 4 maiores lições que aprendi nessa viagem abaixo:

 

Na montanha e na vida, para subir ao topo é preciso descer alguns degraus

 

Na caminhada ao acampamento base do Everest, você descobre que a ascensão ao topo da montanha requer um planejamento cuidadoso, estratégia e perseverança.

No entanto, antes de começar a subir, é preciso descer alguns degraus. Isso significa que é fundamental se preparar adequadamente, treinar o corpo e a mente, e adotar uma abordagem gradual (recomendo começar esse planejamento entrando em contato com a agência Grade 06). 

Ao longo do trekking, há uma série de descidas e subidas em diferentes altitudes. Quando você acha que está chegando, precisa descer centenas de metros para depois subir o dobro. Essas descidas podem ser fisicamente exigentes, mas também são uma oportunidade de aprender que alguns degraus a menos permitem que você se aclimate gradualmente às condições de alta altitude, reduzindo o risco de problemas de saúde e fortalecendo para os desafios seguintes.

Da mesma forma, na vida, muitas vezes é necessário dar alguns passos para trás antes de avançar. Aprender a lidar com os desafios e obstáculos ao longo do caminho é essencial para alcançar e se fortalecer para viver o sucesso.

As subidas e descidas ao longo do trajeto de 13 dias. Foto: Mana Gollo

 

Aproveitar a jornada é melhor do que ficar esperando o final

 

Enquanto muitas pessoas ficam obcecadas com a ideia de alcançar o destino final, o verdadeiro tesouro está na jornada em si. Apenas o agora existe. É no momento presente que temos a oportunidade de apreciar a beleza da natureza, estar aberto para conhecer pessoas de diferentes culturas e superar seus próprios limites. Cada passo dado é uma conquista e cada momento vivido é uma experiência enriquecedora. 

Estar presente traz a oportunidade de se deslumbrar com paisagens magníficas, como montanhas imponentes, vales exuberantes e rios caudalosos. A cada dia, você testemunha a mudança de cenários e é envolvido por uma atmosfera única. Aproveite cada momento, respire o ar fresco, ouça os sons da natureza e sinta a conexão profunda com o ambiente ao seu redor. Encontre alegria nas pequenas conquistas diárias, como alcançar um novo marco ou compartilhar histórias com seus companheiros de trilha.

Da mesma forma, na vida cotidiana, é essencial aprender a aproveitar o processo e encontrar alegria nas pequenas coisas, em vez de apenas esperar por resultados finais que, no fim das contas, podem nunca chegar.

Acampamento base do monte everest
Hillary Bridge, a ponte suspensa mais linda de todo o trajeto. Foto: Mana Gollo

 

Só conhecemos o conforto quando passamos pelo desconforto

 

O trekking para o Acampamento Base do Everest é uma experiência desafiadora e exigente. Você enfrenta temperaturas extremas, condições climáticas imprevisíveis e terrenos acidentados. No entanto, é exatamente nesses momentos de desconforto que você descobre sua força interior e a capacidade de superar obstáculos. Na montanha e na vida, somente ao sair da zona de conforto que você aprende a verdadeira definição de conforto.

Durante o trekking, você tem de se adaptar a acomodações simples em lodges de montanha e enfrentar condições básicas de higiene. Aprender a se contentar com o essencial e a encontrar conforto nas pequenas coisas é uma lição valiosa. Além disso, o desafio físico e mental de caminhar longas distâncias em terrenos íngremes e altitude elevada ajuda a desenvolver resiliência, resistência e autoconfiança.

Foto: Mana Gollo

 

O mundo é muito grande para viver pequeno

 

A imensidão das montanhas, a vastidão do horizonte e a diversidade cultural que você encontra ao longo do caminho são lembretes constantes de que o mundo é vasto e cheio de possibilidades. Essa experiência amplia sua perspectiva e lembra que a vida é muito curta para se limitar a uma zona de conforto estreita. Abrace a aventura, abra-se para novas experiências e esteja disposto a explorar além dos limites conhecidos.

O trekking para o Acampamento Base do Everest oferece muito mais do que uma viagem física. É uma jornada que proporciona lições profundas e transformadoras. 

Desde aprender a descer alguns degraus para alcançar o topo até entender que a verdadeira recompensa está na jornada em si, cada etapa dessa experiência desafiadora oferece insights valiosos. Ao enfrentar o desconforto, superar os desafios e expandir seus horizontes, você se tornará uma pessoa mais resiliente, confiante e aberta às maravilhas do mundo ao seu redor. 

Não tenha medo do imprevisível, do sonho que parece grande demais. O desconforto é necessário para alcançá-lo. O desafio é essencial. Sem ele, a vida fica igual, no comum. E a verdade: o mundo é muito grande para viver pequeno. 

 

No acampamento base do Everest. Foto: Anna Laura

 

Quem leva:

 

 

Virginia Falanghe

https://vivaomundo.com.br/

Jornalista, apaixonada por viagens, natureza, aventuras e em compartilhar dicas para ajudar mais pessoas a viajarem mais e melhor. Quando não está viajando, está lendo, escrevendo ou falando sobre destinos do Brasil e do mundo. Já pisou nos cinco continentes e fez algumas paradas longas para morar na Austrália, Estados Unidos, Canadá e Portugal. Atualmente, mora em São Paulo e escreve dicas de viagens no site da Jovem Pan, integra a equipe do programa Mulheres da Pan como especialista em turismo e também é editora-chefe dos sites Dicas de Viagem, Viva o Mundo e Pousadas Incríveis  Uma boa leitura e ótimas viagens.